25/11/2015

A Imaculada Conceição - Parte I

Pede-se um texto da bíblia que prove que Maria foi concebida sem pecado. É a segunda objeção formidável, que prova a supina ignorância de quem a formula. Falam de conceição imaculada de Maria, sem saber de que se trata, em que consiste e qual a significação das palavras. Eis por que vou citar, não somente um texto da bíblia, mas sim diversos, e explicar o mais claro possível o que é a imaculada conceição, para que o meu amigo protestante entenda que ele pretende combater o que ignora. Escute bem, meu amigo.

I. O que é o pecado original

O pecado original é o pecado cometido por Adão e Eva, desobedecendo a Deus. Este pecado, em Adão era atual, e o afastou de Deus, como fim sobrenatural. Em nós, é um pecado de raça.
O gênero humano forma um corpo único, como ensina S. Paulo: assim como o corpo é um, e tem muitos membros... assim é também Cristo, porque num espírito fomos batizados todos nós, para sermos um só corpo (1 Cor 12, 12).
Cristo é a cabeça sobrenatural deste corpo... sendo Adão a sua cabeça natural e moral. A cabeça moral pecando, todos os membros participam deste pecado.
Quando Deus criou nossos primeiros pais, estabeleceu-os no estado de inocência, de justiça original e de santidade, outorgando-lhes dons de três qualidades: naturais, sobrenaturais e preternaturais.
Os dons naturais são as propriedades do corpo e da alma, exigidos por sua natureza dos homens, para alcançar o seu fim natural. Os dons sobrenaturais são: a graça santificante que faz deles filhos de Deus e predestinados à visão beatífica. Os dons preternaturais consistem na imunidade do sofrimento, da morte, da ignorância e da concupiscência.
Adão e Eva, desobedecendo a Deus, cometeram um pecado mortal (Gn 2,17) e perderam a graça divina, com todos os dons que excediam as exigências da natureza humana. Perderam todos os dons sobrenaturais e preternaturais, conservando apenas os dons naturais, porém muito enfraquecidos. Os dons naturais não lhes foram retirados em sua constituição intrínseca, mas em seu exercício; as paixões desnorteando o juízo e enfraquecendo a vontade.
Este pecado, sendo um pecado de raça, transmite-se a todos os que pertencem à raça humana.
O pecado entrou no mundo por um homem só, diz o Apóstolo (Rom 5,22). E ainda: Se um só morreu para todos é porque todos estavam mortos (2 Cor 5,14).
Todos estavam mortos em Adão. Todos! Logo também Maria SS.
Entende-se por morta em Adão o fato de Maria, em virtude da sua conceição, estar sujeita ao pecado original por direito, porém não estava sujeita a este pecado de fato, porque uma graça singular do Redentor preservou-a, afastando dela a privação que constitui o pecado original.
Maria, em virtude da sua descendência natural de Adão, estaria sujeita ao pecado, se não fosse, como pessoa, preservada dele. Como criatura, Maria devia herdar o pecado original; como Mãe de Deus, devia ela ser preservada.

II. A objeção protestante

A curta definição supra, simples definição do pecado original, é imediatamente impugnada pelos protestantes, que não querem compreender a verdade.
O mesmo pastor, já citado diversas vezes, que tem a reputação de ser um farol da seita, para não dizer um lampião, começa logo com suas invenções.
Maria Imaculada – quer dizer que a bendita Virgem foi concebida sem pecado, tal qual o seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ignorância, sempre a mesma ignorância. Quem é, entre os teólogos católicos, que assevera tal absurdo?
O amigo protestante inventa um absurdo e pretende refutá-lo, quando tal absurdo nunca figurou na doutrina católica, e é por ela formalmente combatido.
Para combater a doutrina católica, caro protestante é necessário conhecer esta doutrina, e não inventá-la de sua cabeça.
Não; absolutamente não, a Igreja nunca ensinou que Maria foi concebida sem pecado, tal qual Nosso Senhor Jesus Cristo... Tal asserção ridícula não passa de uma grotesca calúnia.
A imaculada conceição não consiste em qualquer derrogação das leis da natureza, que presidem à procriação do homem.
Nascer de uma Virgem milagrosamente feita mãe pela exclusiva operação do Espírito Santo, é um privilégio que Jesus Cristo reservou para si mesmo. Não quis partilhá-lo com ninguém, nem sequer com aquela que devia dar-lhe a vida.
Maria SS. entrou neste mundo pelas vias comuns da natureza, ela foi o fruto bendito de Sant’ Ana e de S. Joaquim.
Com S. Boaventura e o Papa Bento XIV, pode-se distinguir no homem uma dupla conceição: uma ativa, que é a procriação do corpo, e uma passiva, que é a união da alma ao corpo gerado.
A conceição ativa de Maria SS. em nada difere da conceição das outras crianças.
A conceição passiva, ao contrário, é completamente diferente.
A nossa alma, no momento de unir-se ao corpo que ela deve vivificar, é contaminada pelo pecado original; enquanto a alma de Maria SS. foi milagrosamente preservada desta mancha.
O pecado original é essencialmente uma privação. É a privação da graça primordialmente concedida à natureza humana, na pessoa de Adão.
Na ordem intelectual e moral, pode-se dizer que a diferença entre o primeiro homem (Adão) e o homem decaído, o primeiro criado na natureza pura, e o segundo na natureza manchada, é o mesmo que aquela que existe na ordem física entre um homem civilizado, despojado dos vestidos que devia trajar, e um selvagem, que nunca usou roupagem.
Nos desígnios de Deus, a graça sobrenatural devia encontrar-se em todos os homens que nascem, mas depois do pecado original a alma, chegando à existência é pobre, nua, miserável, privada dos dons magníficos da graça.
Essa nudez é para a alma uma mancha, como a ausência das vestes é, para um homem civilizado, uma verdadeira mancha.
Tiremos agora a conclusão desta doutrina. O pecado original sendo essencialmente a privação da graça santificante, que a alma devia ter, deve-se concluir que a imaculada conceição consiste em que Maria SS. nunca conheceu, nem um único instante, esta privação, mas que desde o momento que foi criada a sua alma e unida ao corpo, preparado naturalmente para recebê-la, ela achou-se revestida da justiça e da santidade, por uma graça especial de Deus e uma aplicação antecipada dos méritos do Salvador.
Este privilégio é sumamente glorioso para Maria SS., é este até único em seu gênero, porém não pode, de nenhum modo ser assemelhado à conceição humana do Salvador.
De fato, o corpo do Salvador foi formado no seio de uma Virgem, por uma operação pura e divina do Espírito Santo, enquanto o corpo de Maria SS. teve a origem comum dos outros corpos humanos.
A santidade original é, em Jesus, uma condição de sua natureza, um atributo essencial da sua pessoa.
Em Maria a santidade original é um privilégio, uma graça gratuita, concedida em previsão dos méritos do Salvador.
O Redentor estava infinitamente acima da corrupção comum. Maria SS. estava sujeita a esta corrupção, mas foi dela preservada.
Assim entendido – no sentido da doutrina católica a prerrogativa da Mãe não prejudica a excelência do Filho.
Jesus é inocente por natureza; Maria o é por graça.
Jesus o é por excelência; Maria SS. o é por privilégio.
Jesus o é como Redentor; Maria SS. o é como a primeira resgatada pelo sangue divino, mas num resgate antecipado.
Eis a bela, a gloriosa, e luminosa doutrina da imaculada conceição, que os protestantes ignoram por completo, e que pretendem combater, sem conhecê-la.

III. A Lei geral

A lei geral é o que o pecado de Adão e Eva passa a todos os seus descendentes, por isso todos os homens nascem com a mancha do pecado original. Esta verdade é claramente ensinada pela Sagrada Escritura, e especialmente por S. Paulo (Rom 5).
O Concílio Tridentino a proclamou dogma católico e a tradição da Igreja, neste particular, é constante e universal.
O Criador, para lembrar aos nossos primeiros pais a sua dependência da criatura, proibiu-lhes que comessem da fruta da árvore do bem e do mal (Gen 2,17).
Adão e Eva desobedeceram a Deus, e esta desobediência constitui o pecado original. Tudo isso figura na Bíblia (Gn 3,6).
O tal pecado, sendo cometido pelo primeiro homem, passa a toda a sua posteridade. Adão viveu, diz a Bíblia, e gerou à sua semelhança e conforme sua imagem (Gn 5,3). Adão, pecador, gerou outro pecador. É lógico. Por um só homem entrou o pecado no mundo, diz S. Paulo (Rom 5,12). Todos nós, como filhos de Adão e Eva, nascemos com a alma manchada pelo pecado original.
O testemunho de S .Paulo é explícito: Assim como o pecado entrou no mundo por um só homem e pelo pecado a morte, assim também passou a morte a todos os homens, porque todos pecaram num só (Rom 5,12).
Segundo S. Paulo, houve, pois, pecado num homem só, e este pecado, com as consequências, tornou-se universal, ao santo rei David. Fui gerado na iniquidade, e minha mãe concebeu-me no pecado (Sl 50,7).
Eis a lei geral: Todos os homens, como filhos de um pai decaído, como era Adão, nascem decaídos, do mesmo modo como de um rei decaído nascem filhos decaídos.

IV. As exceções a esta lei

O grande argumento dos protestantes é que todos os homens pecaram. E eles concluem: Maria, a Mãe de Jesus, era de raça humana – logo ela pecou. O raciocínio é exato, porém o caso é de repetir a palavra de Judite: Quem sois vós para tentar a Deus (Jdt 6,2), para pôr limites a seu poder? Tal é a lei geral, porém supremo legislador pode derrogar as leis por ele estabelecidas.
A Bíblia está repleta destas derrogações. O movimento do sol e da lua está matematicamente fixado pela lei da natureza; enquanto Josué não hesitou em fazê-lo parar: Sol, detém-se em Gibaon, e tu, lua, no vale de Ajalon. E o sol se deteve e a lua parou (Jos 10, 12-13).
É uma lei que as águas seguem a correnteza do seu curso, entretanto Moisés estendeu a sua mão sobre o mar.... e o mar tornou-se enxuto, e as águas foram partidas...como muro à sua direita e à sua esquerda (Ex 14, 21-22).
É uma lei que um morto fica morto até à ressurreição geral, entretanto o próprio Cristo-Deus, diante do cadáver de Lázaro já em putrefação, exclamou: Lázaro, sai... E imediatamente aquele que estava morto saiu vivo. (Jo 11, 43-44). Que prova isso, meu caro protestante? Isso prova que: Nada é impossível a Deus (Lc 18,27).
Todos os homens pecaram em Adão e Eva, e nascem com o pecado original. É a lei geral. Deus pode derrogar esta lei, como pode derrogar muitas outras, quando o julgar necessário ou conveniente.
Ora, era absolutamente necessário que ele derrogasse esta lei em favor do seu próprio Filho. O Deus de toda pureza não podia entrar em contato com o pecado. Estes dois termos excluem-se mutuamente. Se Jesus se contaminasse pelo pecado, não seria mais a pureza infinita...e não o sendo mais deixaria de ser Deus, porque em Deus tudo é infinito.
Escute bem, caro protestante...
Ora, Cristo, infinitamente puro, não o seria mais, se ele tomasse um corpo formado por uma carne e um sangue maculados pelo pecado. O filho recebe o seu corpo do corpo e do sangue da sua mãe. – O filho é uma continuação dos seus pais.
O corpo de Jesus Cristo é um corpo formado pela carne e pelo sangue da Santíssima Virgem. Ele é o filho de Maria: Aquele que há de nascer de ti, será chamado o filho de Deus, diz S.Lucas (1,35).
Sendo o corpo de Jesus formado do sangue de Maria, e devendo este corpo ser uma pureza infinita – pois é o corpo de Deus – é absolutamente exigido que a carne e o sangue de Maria sejam de uma pureza absoluta, isto é, sem pecado original.
Havia duas maneiras de alcançar esta pureza: a purificação ou a isenção do pecado original.
Qual destes dois modos há de ser mais conveniente?
A discussão é inútil. Se Maria SS. tivesse sido apenas purificada do pecado, ela teria sido escrava, pelo menos durante uns instantes, do demônio, e mais tarde o demônio teria podido lançar no rosto do Salvador este insulto: “Tua mãe! Ela foi minha antes de ser tua! Eu a possuí maculada!” Uma tal suposição é horrível!
Vai, Satanás, longe daqui. Nunca...nunca...nem durante um instante...tu dominarás a mulher bendita entre todas as mulheres! O Senhor estará com ela desde o princípio, e onde está o Senhor, lá não pode estar Satanás. Ela será cheia de graça... E se ela fosse dominada pelo mal, se ela o fosse apenas um instante, não estaria mais cheia de graça; faltaria a graça inicial.
Eis por que a Mãe de Jesus não podia ser simplesmente purificada do pecado... devia ser preservada.

V. A Imaculada Conceição

Eis-nos, com uma lógica irrefutável, em frente do mistério da imaculada conceição...que não é outra coisa senão a preservação do pecado original, em previsão dos merecimentos futuros do Salvador.
Diga, amigo protestante, não é lógico isso?...não é convincente?...não é necessário?...Pois bem, a tal preservação é o que nós chamamos: imaculada conceição.
Está vendo que tal privilégio, outorgado à pura Mãe de Jesus, não é, como aos protestantes se afigura: um bicho de sete cabeças, um espantalho misterioso!...
É a coisa mais lógica do mundo, que eles negam por não saber o que é, e que seus pastores combatem, unicamente para dar-se um jeitinho de bíblico, para passar por homens inteligentes, entendidos, zelosos discípulos da Bíblia, que não compreendem.
A imaculada conceição abrange dois pontos importantes que convém salientar, porque destroem, de antemão, as objeções protestantes.
1) O primeiro é ter sido a SS.Virgem preservada da mancha original, desde o príncipio da sua conceição.
2) O segundo é que tal privilégio não lhe era devido por direito, mas foi-lhe concedido em previsão dos merecimentos de Jesus Cristo.
Como tal, Maria SS. foi resgatada por Jesus Cristo, como qualquer um de nós; mas convém notar que há duas maneiras deresgatar, ou salvar uma pessoa: antes da queda ou pelo levantamento. O primeiro resgate é de Maria SS.; o segundo é o nosso.
Cristo morreu para todos, diz o Apóstolo (2 Cor 5,15) e ainda:Um só morreu para todos (2 Cor 5,14). Morreu de fato para todos, e em previsão de sua morte preservou a sua Mãe da mancha do pecado, sendo ela, deste modo, a primeira resgatada, e a mais bela conquista do seu sangue.

VI. As provas da Bíblia

O que acabamos de dizer é lógico, meu caro protestante, e se impõe a uma inteligência não viciada pelo preconceito. Eu sei que isso não é ainda o bastante para vós, por isso apoiemos tal doutrina sobre a Bíblia. Abrindo o Gênesis, encontramos no capítulo 3,15, as seguintes palavras que Deus dirigiu ao demônio, depois da queda dos nossos primeiros pais: Inimicitias ponam inter te et mulierem, et sêmen tuum et sêmen illius: ipsa conteret caput tuum (Gn 3,15).
A tradução popular deste texto é: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua posteridade e a posteridade dela: ela te pisará a cabeça.
A tradução literal seria: Porém inimizade entre ti e a mulher, entre a tua semente e a semente dela: ela te esmagará a cabeça.
A primeira tradução está mais ao alcance de todos: a segunda se aproxima mais do texto oficial da Vulgata.
Este texto refere-se à SS.Virgem, pois é impossível restringir a sua significação à pessoa de Eva... Assim limitado, este texto perderia toda significação. Esta mulher é a Virgem Santíssima, filha de Adão e Eva pela natureza, filha e esposa de Deus, pela graça. Sua posteridade, sua semente é o seu filho unigênito Jesus Cristo, em Jesus, são os Cristãos. A serpente é o demônio; e os filhos do demônio são os infiéis e ímpios, diz Cornélio a Lápide.
A SS. Virgem, por si, por Jesus e pela Igreja, esmaga a cabeça da serpente. Esmaga-a pela sua imaculada conceição, pela perfeição de sua santidade, pelo seu triunfo sobre o pecado e sobre a morte. Esmaga-a por Jesus, que é o vencedor de Satanás, do pecado do mundo. Esmaga-a pela Igreja, isso é, pelos membros fiéis, pelos católicos fervorosos que procuram viver para Deus.
Diante deste texto luminoso, profético, que tanto exalta a grandeza e o poder da SS.Virgem, os amigos protestantes procuram todos os meios de desviar o sentido, e de excluir dele a Santíssima Virgem.
A tradição cristã sempre viu nesta passagem simbólica a figura do Cristo e de sua SS. Mãe; só a obcecação protestante procura contestar esta figura... sem depois saber a quem aplicá-la.
Destroem, mas sobre as ruínas acumuladas são incapazes de edificar outro edifício...Procuram nos textos antigos se não houve qualquer divergência a respeito, e encontram qualquer coisa, sem mudança essencial, apenas acidental, mas que lhes permite pelo menos suscitar um protesto e formular uma objeção.
Há três versões diferentes do texto citado.
O texto oficial da Vulgata diz: A mulher te esmagará a cabeça (ipsa).
A versão hebraica diz: A semente da mulher te esmagará a cabeça (ipsum).
A versão caldaica diz: O filho (Cristo) te esmagará a cabeça. (ipse)
Que belo achado! Os protestantes gritaram o seu eureca...Tudo serve: ipse, ou ipsum, só não pode servir ipsa, porque este ipsa refere-se a Maria Santíssima. É o tradicional ódio à Mãe de Jesus. Haja discussão!...haja trevas!...haja objeções...haja dúvida...para afastar o texto da Mãe de Jesus, e remover a figura majestosa da Virgem, desta primeira página bíblica.
E no meio da balbúrdia, os pobres protestantes, não enxergam que tal mudança de pronome: ipse, ipsa, ipsum, só tem valor secundário, que não muda em nada o valor do texto, nem a extensão de sua significação.
Menos precipitação, menos paixão e mais sinceridade lhes teria mostrado que o sentido fica sempre aquele que interpretou São Jerônimo, adotando o pronome ipsa: ela: a SS.Virgem.



Pe. Júlio Maria De Lombaerde:

IN: "Luz nas Trevas - Respostas irrefutáveis as objeções protestantes"

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