27/10/2012

Deus vem ao encontro do homem: A Revelação Divina (CIC 50-73)


Primeira Parte – Capítulo II (nº 50 à 73)


No primeiro Capítulo desta seção (nº 27 à 49) vimos que O homem é Capaz de Deus, que busca a Deus naturalmente. Agora vamos falar de Deus que vem ao encontro do homem. Embora possamos conhecer algo de Deus com a nossa razão, é somente com a Revelação divina que conhecemos a Deus mais profundamente, ainda que não totalmente.


Ler com atenção: Rm 1, 19-24

I. O que é Revelação?

Dizemos que a Revelação Divina é tudo aquilo que Deus faz pra se dar a conhecer, tudo aquilo que Ele nos permite conhecer de Si mesmo. Revelar algo é mostrar, trazer à vista; ou ainda, é “fazer conhecer o que era secreto”. Portanto, quando Deus se Revela a nós, Ele está nos fazendo conhecedores do mistério de sua vontade, da sua divindade, do seu amor. O Catecismo, repetindo as palavras do Concílio Vaticano II nos afirma isto com clareza:

51. «Aprouve a Deus, na sua sabedoria e bondade, revelar-Se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade, segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tomam participantes da natureza divina».

É importante considerarmos que Deus não precisava se revelar a nós, mas Ele quis se Revelar, quis que pudéssemos participar da sua Divindade, ou seja, Deus deseja que nós possamos viver a plenitude do seu projeto de amor.

(...) Revelando-Se a Si mesmo, Deus quer tornar os homens capazes de Lhe responderem, de O conhecerem e de O amarem, muito para além de tudo o que seriam capazes por si próprios.– CIC 52

Deus usa de certa “pedagogia” ao se revelar a nós (cf. CIC nº 53) e para isso não se revela por inteiro e nem de uma só vez. Ele o faz aos poucos, e é isto que veremos adiante.

II. As etapas da Revelação:

Desde o princípio Deus se dá a conhecer. A criação é um testemunho de Deus e, além disto, o próprio ser humano foi convidado a uma vida de comunhão com Deus. Acontece que esta comunhão com Deus foi quebrada pelo pecado original quando Adão e Eva desobedeceram a Deus (cf. Gn 3, 1-24). Mas embora a nossa comunhão com Deus tenha sido quebrada, Ele continuou a se Revelar:

55. Esta Revelação não foi interrompida pelo pecado dos nossos primeiros pais. Com efeito, Deus, «depois da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação, e cuidou continuamente do gênero humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a salvação».

É importante notarmos que “Deus procura antes de tudo salvar a humanidade passando por cada uma de suas partes” (CIC 56). Isso podemos ver no relato da Aliança com Noé (Gn 9, 1-17), onde Deus firma uma aliança com todos os seres vivos.

Depois vemos que Deus elege Abraão para fazer dele “pai de uma multidão de povos” (Gn 17, 5), e é este justamente o significado do seu nome. Deus revela a Abraão o seu projeto: “Em ti serão abençoadas todas as nações da Terra” (Gn 12, 3). Por isso dizemos que Abraão é o nosso pai na fé.

Os descendentes de Abraão são na verdade o povo de Deus. Quando o Povo de Deus estava sendo escravizado no Egito, Deus veio salvá-lo, e para isso contou com Moisés. Foi então que Deus fez uma Nova Aliança com seu povo e lhe deu uma lei, entregou a Moisés os 10 Mandamentos. Na história da libertação do povo de Israel da escravidão do Egito (que conhecemos bem) temos como que uma antecipação da nossa salvação. Vamos fazer uma comparação:

O Povo de Israel era escravizado no Egito, e para libertá-los, Deus envia Moisés que conduz o povo. Moisés e todo o Povo passam pelas águas do Mar Vermelho onde morre derrotado o exército do faraó que os estava perseguindo. E continuam atravessando o deserto durante vários anos rumo à Terra Prometida. (cf. Ex 14).

Agora vejamos como acontece conosco: Nós somos o povo de Deus, já o Faraó é o Diabo que nos escraviza do pecado. Jesus vem nos libertar e noz faz passar pelas águas do Batismo assim como o Povo de Israel passou pelo Mar Vermelho. Passando pelo Batismo afogamos a tropa do faraó (Diabo), pois o Batismo nos abre caminho para a salvação. E enquanto Igreja, caminhamos peregrinos neste mundo (como o povo de Israel caminhou pelo deserto) para chegarmos à Terra Prometida (alcançarmos a Vida eterna junto de Deus).

III. Não haverá outra Revelação:

Pudemos ver então como Deus foi se Revelando a nós. Desde o princípio Deus se Revelou através de sua Palavra. Acontece que a Palavra de Deus (Verbo) se fez carne: Jesus Cristo – Ele é a plenitude, o ápice da Revelação, pois Ele é o próprio Deus.

65. «Muitas vezes e de muitos modos falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos Profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos pelo seu Filho» (Hb 1, 1-2). Cristo, Filho de Deus feito homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. N'Ele, o Pai disse tudo. Não haverá outra palavra além dessa.”

No número 66 do Catecismo vemos a palavra “Economia” que a primeira vista parece fora de contexto. Mas não está, pois aqui ela não significa dinheiro, mas sim a ação de Deus para nos salvar. A palavra “Economia” vem do grego (Oikonomia) e quer dizer “Lei da casa” (Oikos – Casa; Nomos – lei). Ou seja, é como um pai de família que age pra o bem de sua casa. Quando falamos de “Economia divina”, “Economia da salvação”, estamos falando da ação de Deus para nos salvar, para cuidar de nós. Esta palavra aparece constantemente no Catecismo, portanto devemos estar atentos ao seu significado. Vejamos o que nos diz o Catecismo:

66. «Portanto, a economia cristã, como nova e definitiva aliança, jamais passará, e já não se há-de esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo».

Portanto, o Catecismo nos ensina claramente que não haverá outra revelação a não ser em Jesus Cristo. Tudo, absolutamente TUDO o que Deus desejou nos comunicar já nos foi ensinado e completado em Jesus. Ou seja, até que Jesus volte no fim dos tempos não haverá mais Revelação.

Chamamos de Revelação Pública aquela que vemos descrita na Bíblia e conhecemos segundo a Tradição Apostólica, e terminou com a morte do último Apóstolo. Pois foi através dos apóstolos, que foram testemunhas da Revelação de Deus na pessoa de Jesus, que temos conhecimento de tudo aquilo que Deus revelou.

66. (...)No entanto, apesar de a Revelação já estar completa, ainda não está plenamente explicitada. E está reservado à fé cristã apreender gradualmente todo o seu alcance, no decorrer dos séculos.

Toda a Revelação já aconteceu, mas existem muitas coisas que foram reveladas que ainda não temos como compreender. Ao longo da história a Igreja foi evoluindo na compreensão da revelação, e da mesma forma continua na busca de um maior entendimento dos mistérios revelados.

Revelações privadas:

As chamadas revelações privadas (Ex: aparições de Nossa Senhora, visões e etc..) não pertencem ao depósito da fé como nos ensina o Catecismo no número 67. Portanto, não temos a obrigação de crer nelas, justamente por não serem revelações públicas (Lembrando que a Revelação Pública terminou com a morte do último apóstolo).

Importante saber que uma revelação privada, se for verdadeira, nunca vai revelar algo de novo em matéria de fé (pois a Revelação já foi concluída), mas irá complementar o que já foi revelado. Nestes casos, a Igreja até aceita a revelação, deixando a critério dos fiéis a decisão por crer ou não nelas (como por exemplo: nas Aparições de Nossa Senhora em Fátima, nas visões de alguns santos e etc...). O que nos é indispensável é crer naquilo que foi Revelado em Jesus e transmitido pelos Apóstolos.

Exemplo: Numa suposta aparição de Nossa Senhora, se realmente é Nossa Senhora, Ela jamais irá revelar algo de novo, diferente do que já foi revelado (Revelação pública). Mas irá revelar algo que confirme o que já foi revelado. Pode revelar novidades históricas, mas nunca novidades de fé.

"A fé cristã não pode aceitar «revelações» que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação de que Cristo é a plenitude.É o caso de certas religiões não-cristãs, e também de certas seitas recentes. fundadas sobre tais «revelações». – CIC 67


Luan Carlos Oliveira
Ouro Preto-MG

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