18/10/2012

O Homem é capaz de Deus (CIC 26-49)

Primeira parte - Primeira Seção.

A Primeira seção do Catecismo é dividida em três capítulos. O primeiro vai nos falar sobre o Homem que busca a Deus. O Segundo vai nos falar que Deus se revela a nós (isto porque não o conseguimos alcançar sem a sua graça). E O terceiro capítulo nos fala sobre a Fé. Podemos assim resumir: Crença, Revelação e Fé. (a diferença entre fé e crença é que a crença é apenas um esforço humano de crer em Deus. A fé, ao contrário, parte da REVELAÇÃO de Deus – cf. Declaração Dominus Iesus, 7).

Aqui nos cabe um questionamento: “O que significa crer?”

O Homem é Capaz de Deus - CIC 26-49

Estamos no início da Primeira parte do Catecismo da Igreja Católica, e já nos deparamos com uma belíssima afirmação de fé: “O homem é capaz de Deus!”. De fato, antes de iniciarmos o estudo e a compreensão do catecismo precisamos ter em mente que somos capazes de chegar a Deus, porque d’Ele viemos e para Ele retornaremos. Esta certeza é o primeiro passo que damos em direção àquele que nos criou.


I.                 O desejo de Deus
Sugestão de leitura e reflexão: At 17, 22-28

Sabemos que Deus antes de tudo nos desejou. Afinal, a ação criadora de Deus exprime nada mais do que sua própria vontade, “Pois se o homem existe é porque Deus o criou por amor e, por amor não cessa de dar-lhe o ser” (nº 27). O catecismo no número 27 nos deixa este ensinamento:

“27. O desejo de Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para Si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso: A razão mais sublime da dignidade humana consiste na sua vocação à comunhão com Deus(...)”

O Catecismo nos ensina que o ser humano por sua própria natureza busca incessantemente a Deus e isto se manifesta de diversas formas (cf. nº 28). Por este motivo o Homem é um ser naturalmente religioso.

Embora o homem busque a Deus, esta união pode ser ignorada e esquecida. O catecismo nos lança alguns motivos que levam a este esquecimento de Deus, como por exemplo: “a revolta contra o mal existente no mundo, a ignorância ou a indiferença religiosas, as preocupações do mundo e das riquezas, o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento hostis à religião (...)” – Temos a certeza que podemos acrescentar a esta lista diversas outras coisas. Contudo, embora tenhamos claras as nossas dificuldades, e as inúmeras coisas que nos afastam de Deus, Ele, por sua parte não se cansa de nos chamar para a comunhão com Ele.

Para Santo Agostinho (que é claro não conhecia as leis da gravidade), cada coisa tende para o seu lugar. O que é da terra vai para a terra e o que é do ar vai para o ar, e assim por diante...

“Um corpo, pelo seu peso, tende para o seu lugar próprio; o peso não significa necessariamente ir para baixo, mas para o lugar próprio de cada coisa. O fogo tende para cima, a pedra para baixo [...], cada coisa para o seu lugar próprio; o óleo sobe para cima da água, a água desce para baixo do óleo. Se uma coisa não está no seu lugar, não está em repouso; mas, quando encontra o seu lugar, fica em repouso. O meu peso é o meu amor: é ele que me leva para onde me leva. O Teu dom inflama-nos e leva-nos para cima; ele abrasa-nos e nós partimos. [...] O Teu fogo, o Teu fogo bom, faz-nos arder e nós vamos, subimos para a paz da Jerusalém celeste – porque encontrei a minha alegria quando me disseram: «Vamos para a casa do Senhor!» (Sl 121, 1). É para aí que a boa vontade nos conduz por ser o nosso lugar, aí onde não desejaremos mais nada do que assim permanecer para toda a eternidade.” – Santo Agostinho, Confissões XIII, 9.

               Sabemos que fomos criados por Deus, viemos d’Ele, Por isso também tendemos a Ele, porque é somente n’Ele que o “nosso coração repousa e encontra repouso”. (cf. nº 30).

II.               As vias de acesso ao conhecimento de Deus.

Uma vez que somos seres naturalmente religiosos, que cremos em Deus e o buscamos, para que esta busca possa se tornar mais concreta vamos descobrindo os caminhos para conhecermos a Deus. Sabemos que Deus habita em luz inacessível (1 Tm 6,16), não o vemos, não o podemos tocar. Porém, vemos e podemos tocar a obra de suas mãos: a criação. Por isso o catecismo nos apresenta a criação como caminho para o conhecimento de Deus. Sendo assim, mostra-nos duas vias para chegar a Deus: O mundo e o homem.
               Podemos ver tanto no mundo como no homem os “traços de Deus”. Ora, se uma obra de arte expressa o artista que a cria, da mesma forma a criação expressa a grandiosidade de Deus. Podemos observar na perfeição da criação, na harmonia das coisas criadas, na complexidade do ser humano as “características” de Deus.

Sugestão de pesquisa: As cinco vias do conhecimento de Deus de Santo Tomás de Aquino.


Por que precisamos conhecer a Deus?

O catecismo no número 34 nos diz:

34. O mundo e o homem atestam que não têm em si mesmos, nem o seu primeiro princípio, nem o seu fim último, mas que participam do Ser-em-si, sem princípio nem fim. Assim, por estes diversos «caminhos», o homem pode ter acesso ao conhecimento da existência duma realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo, «e a que todos chamam Deus»

Nós não temos sentido em nós mesmos. Se temos um sentido, este está fora de nós, e, sabemos que este sentido é o próprio Deus. Ele é o nosso princípio e fim último. Em Deus descobrimos o nosso sentido, descobrimos o nosso caminho. Portanto, conhecer a Deus é também buscar conhecer a si mesmo. Podemos comparar com um lápis: O lápis, não tem sentido em si mesmo, ou seja: ele não existe para ele mesmo, pelo contrário. Para que o lápis tenha um sentido, este sentido tem que estar fora dele: O lápis não existe por si só. Alguém o fez com uma finalidade: ser utilizado pra que alguém possa escrever. Outro exemplo: Um caderno não tem sentido em si mesmo, tem um sentido que está fora de si que é ser um espaço onde alguém possa escrever. Ele não veio de si e para si. Da mesma forma, o nosso sentido não está em nós, mas em Deus.

Tudo isto nos faz, à luz da razão, conhecer a Deus. Mas Deus, em seu projeto infinito de amor, além de nos permitir conhecê-lo através de nossa razão e de nossos esforços humanos, quis se Revelar a nós. (Esta realidade será tratada próximo capítulo do catecismo).

III.              O conhecimento de Deus segundo a Igreja

Neste parágrafo, o catecismo explicita a nossa fé de que Deus pode ser conhecido através de nossa razão, a partir das coisas criadas (Cf. nº 36), como que confirmando tudo o que foi dito até agora.

36. «A Santa Igreja, nossa Mãe, atesta e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido, com certeza, pela luz natural da razão humana, a partir das coisas criadas» (12). Sem esta capacidade, o homem não poderia acolher a revelação de Deus. O homem tem esta capacidade porque foi criado «à imagem de Deus» (Gn 1, 27).

Esta parte do catecismo pretende combater dois extremos que põe a nossa fé em risco: Os princípios Racionalistas e Fideístas. Ou seja, nossa fé católica não compreende os extremos: Nem mesmo só a razão nos basta (racionalismo) e nem somente a fé nos pode levar ao conhecimento de Deus (fideísmo – tendência protestante). A fé e a razão precisam andar juntas.

Podemos, através da razão, conhecer algo de Deus, mas não podemos conhecê-lo por inteiro. O princípio racionalista leva à falta de fé, a querer colocar Deus dentro de conceitos acadêmicos e/ou provas científicas, subordinando Deus à razão.
Em contra partida, o fideísmo, tão apoiado pelos protestantes pode levar à uma credulidade ingênua. Existe por parte dos protestantes uma falta de confiança na razão humana. Eles têm uma visão pessimista do ser humano. Eles acreditam que a razão humana só é capaz de produzir ídolos. A partir desta desconfiança da razão humana existe uma profunda desconfiança por parte dos protestantes de qualquer esforço filosófico de compreender o criador. Esta tendência é chamada de Fideísmo (Somente a fé nos faz conhecer Deus).

Perigos modernos: existe uma tendência desse pensamento protestante na Igreja Católica. Por exemplo, por vezes escutamos expressões como: “o meu humano que me leva a pecar...” e com isso acaba-se por introduzir esta linguagem pessimista do ser humano na Igreja, como se tudo que é humano fosse necessariamente ruim (Influência pentecostal). Sabemos bem que o que é verdadeiramente humano é também verdadeiramente bom.

→ Obs.: A Bíblia NUNCA usa a palavra Corpo para designar algo de ruim no ser humano. Quando na Bíblia se quer fazer menção a algo negativo, usa-se a palavra Carne.

               Podemos aqui levantar um questionamento: Se a nossa mente não fosse capaz de compreender algo de Deus, como poderíamos ler a bíblia e interpretá-la?

Portanto, Deus nos permitiu através da razão conhecer algo de Si. Foi Ele mesmo que nos deu a capacidade de pensar. Porém, a razão não nos é suficiente. Pela fé, na Revelação de Deus, podemos ter acesso àquilo que não é acessível à nossa razão. (cf. nº 38)

IV.             Como falar de Deus?

Ensina-nos o catecismo que, “uma vez que o nosso conhecimento de Deus é limitado, também limitada é a nossa linguagem sobre Deus” – (Cf nº 40) – Nossa linguagem não é capaz de expressar Deus, apenas de Apontá-lo. Por este motivo, o catecismo nos diz que precisamos purificar nossa linguagem daquilo que possui de limitado (cf. nº 42).

41. Todas as criaturas são portadoras duma certa semelhança de Deus, muito especialmente o homem, criado à imagem e semelhança de Deus. As múltiplas perfeições das criaturas (a sua verdade, a sua bondade, a sua beleza) refletem, pois, a perfeição infinita de Deus. Daí que possamos falar de Deus a partir das perfeições das suas criaturas: «porque a grandeza e a beleza das criaturas conduzem, por analogia, à contemplação do seu Autor» (Sb 13, 5).”

“42. Deus transcende toda a criatura. Devemos, portanto, purificar incessantemente a nossa linguagem no que ela tem de limitado, de ilusório, de imperfeito, para não confundir o Deus «inefável, incompreensível, invisível, impalpável» com as nossas representações humanas. As nossas palavras humanas ficam sempre aquém do mistério de Deus.”

Importante notar uma coisa: Não sabemos dizer o que Deus é, por se tratar de algo que ultrapassa nossa capacidade. Mas, em contrapartida, podemos falar sobre o que Deus não é. Esta sim é uma tarefa mais fácil: “O Deus «inefável, incompreensível, invisível, impalpável»...” – Este tipo de estudo chama-se Teologia Apofática(ou Teologia negativa)
Para concluirmos este capítulo, vamos ler com atenção:

43. Ao falar assim de Deus, a nossa linguagem exprime-se, evidentemente, de modo humano. Mas atinge realmente o próprio Deus, sem todavia poder exprimi-Lo na sua infinita simplicidade. Devemos lembrar-nos de que, «entre o Criador e a criatura, não é possível notar uma semelhança sem que a dissemelhança seja ainda maior» (16), e de que «não nos é possível apreender de Deus o que Ele é, senão apenas o que Ele não é, e como se situam os outros seres em relação a Ele»(17)



Luan Carlos Oliveira

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