Para além do fato de crermos em Deus, cremos em Deus que é Pai. E se Deus é Pai, logicamente, tem um Filho. Contudo, a fé da Igreja vai ainda mais além: Cremos num Deus que é Pai que é Filho e que é Espírito Santo. Portanto, crer em Deus Pai implica em acolher a revelação de Deus Trindade.
O Catecismo da Igreja Católica a partir do número 232 começa a explicar e explicitar esta fé na Santíssima Trindade. É importante ressaltar que o mistério da Trindade é o centro da fé católica e, portanto, toda a ação da Igreja se realiza “Em Nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Ou seja: em um só nome e não nos nomes. Muitas vezes erroneamente fala-se “Em nome do Pai, em nome do Filho e em nome do Espírito Santo” (e até cantamos, como é comum no Brasil: “Em nome do Pai, em nome do Filho e em nome do Espírito Santo, estamos aqui...”).
“Os cristãos são batizados «em nome» do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e não «nos nomes» deles porque não há senão um só Deus – o Pai Omnipotente, o Seu Filho Unigénito e o Espírito Santo: a Santíssima Trindade.” – CIC 233.
Seguindo a orientação de Jesus quando disse: "Ide, fazei discípulos a todos os povos e batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28, 19) a Igreja desde o início realizou a missão deixada por Cristo. No início da Igreja, antes do Batismo, aquele que ia ser batizado devia responder a uma tríplice pergunta:
"Crês em Deus, Pai todo-poderoso...? Crês em Jesus Cristo, Filho de Deus...? Crês no Espírito Santo...?" E a cada pergunta devia responder: “Creio” e era mergulhado na água. Hoje esta profissão de fé foi aumentada e desdobrada em mais afirmações. Isso mostra como desde sempre a Igreja professa a sua fé no “Deus Uno e Trino”. São Cesário de Arles ensinava: “Fides omnium christianorum in Trinitate consistit – A fé de todos os cristãos assenta na Trindade”.
“O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo. E, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé e a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na «hierarquia das verdades da fé»” – CIC 234.
A Revelação de Deus como Trindade:
Deus era chamado de Pai pelo povo de Israel no sentido de ser o Criador. Mas quando Deus entra na história, quando vem enquanto Filho: Jesus o Filho de Deus, este O revela como Pai. Então é o próprio Jesus que nos revela o Pai. Aí Deus é chamado de Pai não somente por ser criador, mas principalmente e fundamentalmente por ter um Filho: Jesus Cristo:
“Jesus revelou que Deus é «Pai» num sentido inédito: não o é somente enquanto Criador: é Pai eternamente em relação ao seu Filho único, o qual, eternamente, só é Filho em relação ao Pai: «Ninguém conhece o Filho senão o Pai, nem ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar» (Mt 11, 27).” – CIC 240
A Paternidade de Deus revela sua bondade, sua misericórdia e o seu cuidado com todos os seus filhos. Deus em sua pedagogia divina assume características paternais que nossa humanidade reconhece na figura dos progenitores: pai e mãe - estes são o elo de intimidade e segurança, de proteção, de amor e de cuidado. Deus sendo Pai revela todas estas características sob um olhar ainda maior porque Ele transcende a paternidade e a maternidade humanas. Afinal, os pais erram e tem falhas, mas Deus é perfeito. Ninguém é Pai como Deus. (cf. CIC 239). Deus também é ternura, e isso remete a figura materna. Faz-se importante ressaltar que Deus não se limita à distinção humana de sexos: Deus não é homem e nem é mulher: É Deus (cf. CIC 239).
Vimos que o Pai é Revelado pelo Filho. Vermos também que O Pai e o Filho são revelados pelo Espírito: É a Trindade que se revela enquanto comunidade de amor.
“Antes da sua Páscoa, Jesus anuncia o envio de um «outro Paráclito» (Defensor), o Espírito Santo. Agindo desde a criação e tendo outrora «falado pelos profetas», o Espírito Santo estará agora junto dos discípulos, e neles, para os ensinar e os guiar «para a verdade total» (Jo 16, 13). E, assim, o Espírito Santo é revelado como uma outra pessoa divina, em relação a Jesus e ao Pai.” – CIC 243
Santo Irineu de Lion ensinava que Deus enviou-nos dois paráclitos, ou seja, defensores: O primeiro paráclito é Jesus, e o segundo é o Espírito Santo que Jesus nos Prometeu: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco.” (Jo 14, 16).
“A origem eterna do Espírito revela-se na sua missão temporal. O Espírito Santo é enviado aos Apóstolos e à Igreja, tanto pelo Pai, em nome do Filho, como pessoalmente pelo Filho, depois do seu regresso ao Pai. O envio da pessoa do Espírito, após a glorificação de Jesus revela em plenitude o mistério da Santíssima Trindade.” – CIC 244
Cremos que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho (filioque), e não apenas do Pai (tradição ocidental). Esta questão é motivo de controvérsias com as igrejas ortodoxas que creem que o Espírito Santo procede apenas do Pai.
“A tradição oriental exprime, antes de mais, o carácter de origem primeira do Pai em relação ao Espírito. Ao confessar o Espírito como «saído do Pai» (Jo 15, 26), afirma que Ele procede do Pai pelo Filho. A tradição ocidental exprime, sobretudo, a comunhão consubstancial entre o Pai e o Filho, ao dizer que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho (Filioque). E di-lo «de maneira legítima e razoável», «porque a ordem eterna das pessoas divinas na sua comunhão consubstancial implica que o Pai seja a origem primeira do Espírito, enquanto «princípio sem princípio», mas também que, enquanto Pai do Filho Único, seja com Ele «o princípio único de que procede o Espírito Santo». Esta legítima complementaridade, se não for exagerada, não afeta a identidade da fé na realidade do mesmo mistério confessado.” – CIC 248
Boa Reflexão!
Luan Carlos Oliveira
Ouro Preto-MG
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