13/05/2013

Breves considerações acerca da humildade e espiritualidade marianas

Não há duvida de que as mais belas orações aprendemos quando ainda somos crianças. Na Audiência Geral de 27 de fevereiro de 2013, a última de seu Pontificado, o Papa Bento XVI valeu-se de uma dessas orações, tão cedo aprendidas, para ilustrar a alegria de ser cristão. Dizia o Santo Padre: “Numa bela oração, que se recita diariamente pela manhã, diz-se: ‘Eu Vos adoro, meu Deus, e Vos amo com todo o coração. Agradeço-Vos por me terdes criado, feito cristão...’”


               E quanto à Santíssima Virgem, também crianças já aprendíamos a chamá-La de nossa querida “Mãezinha”; gostávamos de cantar para Ela a mais santa obviedade: “azul é o Teu manto e branco é o Teu véu!” e, logo em seguida, suplicávamos: “Mãezinha, eu quero Te ver lá no Céu!”

Era uma música bem simples, tão simples como é Aquela a quem era destinada...


               Maria é chamada pela Igreja, como nos lembra São Luís de Montfort, de “Mãe escondida e secreta”. Foi a primeira que, de uma maneira toda especial, porque livre do pecado de nossos primeiros pais, abraçou determinantemente a humildade. Quando visitada pelo anjo, chamou a si mesma “serva do Senhor” (Lc 1, 38) e não foi senão como obrigada, unicamente para render glórias a Deus Pai, que declarou: “O Todo-Poderoso fez para mim coisas grandiosas.” (Lc 1, 49)

Maria, a serva humilde

               Sabemos, pela própria narração da Sagrada Escritura, o que é completada pela Tradição, que Maria jamais fez em vida algum milagre visível aos olhos das pessoas. Conhecemos outrossim a misteriosa escassez de referências a Ela por parte dos apóstolos e evangelistas, bem como o tão pouco falava durante sua vida. Pode ser espantoso perceber que as últimas palavras pronunciadas por Maria estão ainda no início do Evangelho. Podemos encontrá-las em São João, capítulo segundo, versículo quinto: “Fazei tudo o que Ele vos disser!” Dessas poucas palavras nossa boa Mãe fez o seu testamento e, a partir daí, calou-se, emudeceu-se, silenciou-se.

               Mas, qual é a razão deste aparente “esquecimento” de Maria? Na verdade, não é tão difícil entender porquê Nossa Senhora escolheu as palavras de Jo 2, 5 para serem suas últimas. Nelas se encerra a razão de sua perfeita humildade: era preciso que Jesus crescesse e que Ela diminuísse, a fim de ser somente conhecida pelo Pai dos Céus. Com isto não se quer dizer que a glória de Maria seja de alguma forma antagônica à de Seu Filho, mas, pelo contrário, toda a glória de Nossa Senhora consistia em ser meramente Aquela que nos conduz a Jesus.

O Exemplo do Santo Rosário

               Este mistério tão sublime pode ser facilmente experimentado ao se rezar com devoção o Santo Rosário. Há quem se preocupe, durante a récita dos sagrados mistérios, em ficar atento a cada palavra da Ave-Maria e exercitar a mesma atenção durante todas as orações. Gostaria, porém, de contestar esta respeitável diligência. Quando rezamos o Santo Terço ou o Rosário, o fundamental é a meditação dos mistérios da nossa salvação. Este exercício inclui: a consideração do mistério, os afetos e as resoluções da alma e, por fim, a conclusão, que pode ser um agradecimento ou uma petição. Assim sendo, a récita das Ave-Marias poderia ser comparada à uma música de fundo neste momento, que nos consola e nos concede tempo para a meditação.

               Ó insondável humildade de Maria! Também o Santo Terço é, em si mesmo, uma catequese que nos ensina esta virtude. Maria está sempre presente, servindo-se de medianeira entre Jesus e os homens, mas, com toda a sua docilidade, prefere permanecer no plano de fundo do espetáculo em que a alma enamorada encontra-se com o seu Amado.

               Neste mês de Maio, peçamos a Maria um pouco da sua humildade e façamo-lo recitando a belíssima “Ladainha da Humildade”, de autoria do Cardeal Merry del Val, secretário de Estado no pontificado de São Pio X:


Ó Jesus, manso e humilde de coração, ouvi-me.
Do desejo de ser estimado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser amado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser conhecido, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser honrado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser louvado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser preferido, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser consultado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser aprovado, livrai-me, ó Jesus.

Do receio de ser humilhado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser desprezado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de sofrer repulsas, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser caluniado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser esquecido, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser ridicularizado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser infamado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser objeto de suspeita, livrai-me, ó Jesus.

Que os outros sejam amados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros sejam estimados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam elevar-se na opinião do mundo, e que eu possa ser diminuído, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser escolhidos e eu posto de lado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser louvados e eu desprezado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser preferidos a mim em todas as coisas, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser mais santos do que eu, embora me torne o mais santo quanto me for possível, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.


Amém, amém! Salve Maria!



Victor Moreira Argamim 
Mebro do Apostolado Caritas Fidei

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