
A mídia sensacionalista prenuncia ares de renovação, que, na ideologia liberal pressupõe a abertura da Igreja para temas polêmicos como aborto, união homossexual, eutanásia, celibato clerical dentre outros. Tal pensamento leva a um importante questionamento: Afinal, aonde é que deveria ocorrer mudança? Na fé da Igreja ou nas pessoas?
O que deve mudar, acaso, é a fé que a Igreja professa por séculos e que recebeu do próprio Cristo e dos seus apóstolos?
Não. Não nos parece lícito que a fé tenha que se moldar ao homem simplesmente “porque os tempos mudaram” e com eles os valores que regem a sociedade. A Igreja não muda, porque Cristo, que é a sua cabeça não muda. Assim como Cristo é "O mesmo ontem, hoje e sempre" (cf. Hb 13, 8) a sua Igreja também se mantém a mesma, guardando a fé que recebeu d'Ele e aprendeu dos apóstolos.
Desse modo, o aborto, por exemplo, não se torna um pecado menor ou deixa de sê-lo simplesmente porque tal prática abominável tornou-se comum. Da mesma forma como o sexo fora do casamento, cada vez mais comum na atualidade, não deixa de ser pecado por ter se tornado uma prática quase corriqueira. A realidade é que a verdade não muda pelo simples fato de alguém discordar dela, ou ainda porque existe a mentira. A verdade é absoluta e imutável.
A missão da Igreja consiste em mostrar, diante deste mundo turbulento e já quase sem fé e valores os caminhos para a reconciliação com o Senhor, é ser caminho seguro para Deus. Como poderia ser a Igreja, fiel a sua missão se, ao invés de denunciar a hipocrisia e o pecado que permeia nosso mundo resolvesse modificar a fé, que é verdadeira, unicamente porque o “homem moderno” pensa diferente dela? – Se assim fosse, a Igreja não cumpriria sua missão.
Por qual renovação a Igreja precisa passar então?
O que a Igreja realmente precisa é da renovação interior de seus membros para que todo o corpo funcione bem (cf. 1Cor 12, 12-29). A Igreja precisa de católicos conscientes de sua fé, que amem a Igreja de Cristo, que denunciem, que vivam a fé com radicalidade. A maioria dos ditos católicos não conhece a doutrina da Igreja, não se interessa, não se compromete e, ainda mais: cria enormes divisões dentro dela!
O Papa Bento XVI na carta Apostólica Porta Fidei com a qual proclamou o Ano da fé apontou:
“[...] Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora um tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado. Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes setores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas. 3. Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida (cf. Mt 5, 13-16). Também o homem contemporâneo pode sentir de novo a necessidade de ir como a samaritana ao poço, para ouvir Jesus que convida a crer n’Ele e a beber na sua fonte, donde jorra água viva (cf.Jo 4, 14). Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento de quantos são seus discípulos (cf. Jo 6, 51).” – Porta Fidei, 2-3.
Nosso amado papa apontou para a necessidade de se redescobrir o caminho da fé:
6. A renovação da Igreja realiza-se também através do testemunho prestado pela vida dos crentes: de fato, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou. O próprio Concílio, na Constituição dogmática Lumen gentium, afirma: «Enquanto Cristo “santo, inocente, imaculado” (Heb 7, 26), não conheceu o pecado (cf. 2 Cor 5, 21), mas veio apenas expiar os pecados do povo (cf. Heb 2, 17), a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação. A Igreja “prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus”, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cf. 1 Cor 11, 26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas, e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste em plena luz» - Porta Fidei, 6.
A Igreja não precisa mudar os seus dogmas e práticas que se perpetuaram durante os séculos. A Igreja precisa é de católicos fiéis, padres, bispos e diáconos fiéis, famílias inteiras fiéis; assim como também o papa foi fiel. Tão fiel que, por sua fidelidade a Jesus e sua Igreja abdicou da sé de Pedro. Por amor! Por querer que a Igreja avance por águas mais profundas.
Diante das especulações acerca da renúncia do nosso amado papa Bento XVI, do sensacionalismo em torno do seu possível sucessor e da dita “renovação da Igreja” devemos reforçar a nossa fé católica. E aproveitando da espiritualidade deste tempo quaresmal, é nos propício intensificar nossas orações na certeza de que o escolhido pelo Espírito Santo para governar a barca de Pedro será amparado, assim como também nós, pelo mesmo Espírito que guiou toda a Igreja desde o início e continua a nos guiar, peregrinos que somos, nas estradas deste mundo rumo ao Pai.
Luan Carlos Oliveira
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