09/03/2016

A Morte de Lázaro

Das Contemplações Evangélicas (25ª) do Servo de Deus Pe. Júlio Maria De Lombaerde.

Prelúdios: 

Jesus está ainda no meio de seus discípulos... elevando o olhar ao céu...dirige-se aos que o cercam, dizendo: Lázaro, nosso amigo, dorme; porém eu vou para o despertar do sono.Ó bom Jesus, sim, despertai Lázaro de seu sono... Vós, cuja palavra criadora suscita os mundos, fazei meu coração desperte e vos ame...

I

Escutemos ainda o Evangelho. (Jo. 11,7-13).

7 – Depois, passando isto, disse Jesus a seus discípulos: tornemos para Judeia. 8 – Disseram-lhe os discípulos: Mestre, ainda agora queriam os judeus apedrejar-te, e vais outra para lá. 9 – Respondeu Jesus: Não são dose as horas do dia? Se alguém andar de dia não tropeça, porque vê a luz deste mundo. 10 – Mas se andar de noite, tropeça, porque lhe falta a luz. 11 – Assim falou, e depois disto lhes disse: Lázaro, nosso amigo, dorme; porém eu vou para o despertar do sono. 12 – Disseram, então, seus discípulos: Senhor, se dorme será salvo. 13 – Mas Jesus tinha falado de sua morte, e eles entenderam que falava do dormir próprio do sono.

II

Meu Deus, como estas palavras mostram a longanimidade e as doces finezas de vosso amoroso Coração... Como sabeis amar a vossos amigos. Lazaro está enfermo... sabei-lo, entretanto não vos apresais em visita-lo para o curar... Quareis dar uma prova maior de vossa amizade... Deixá-lo-eis morrer para poder ressuscitá-lo.... [1]

Inimigos mortais esperam-vos na Judeia...[2] De longe, como de perto, vosso olhar divino descobre as maquinações que se tramam contra vós... Os discípulos sabem-no... Mas o amor é mais forte que a morte. Vedes tudo... vosso doce olhar embacia-se ante tanta malícia... mas vosso coração bate com mais força... Além disso, a hora da vossa paixão está fixada pelo Pai eterno.

É o que revelais tão suavemente, comparando a vossa vida a um dia, do qual soi o mestre e que ninguém pode abreviar nem de um momento... o dia tem 12 horas, é a luz... vossa vida mortal deve completar seu tempo: sois a luz do mundo... Na ocasião da vossa morte há de começar um eclipse, que há de prolongar-se para os endurecidos: é a morte. [3]

Ó bom Jesus, ouço-vos dizer tudo isso com um suave abandono... depois vosso límpido olhar ilumina-se: é o vosso coração que vai abrir-se... que palavra brota dele: Lázaro, nosso amigo dorme. [4]

Os apóstolos não compreendem... Continuais comovido, mas num tom de voz que indica o vencedor da morte: porém eu vou despertá-lo do sono!...

Que convicção em vossa voz!... ó Jesus! E como preparais admiravelmente os vossos apóstolos ao milagre que deve seguir-se.

III

Bom Jesus, tudo isso é a história de minha alma... a história sobretudo de minha vocação religiosa... [5] Esse Lázaro que amais sou eu... sabíeis que estava enfermo... escravo do mundo... poderíeis ter-me dele arrancado logo, mas demorastes um tempo... deixaste-me como que morrer, decompor-me no túmulo de minhas misérias... Vossos anjos diziam-vos: Mestre, não ides? ... mas respondestes... Nosso amigo... dorme... porém eu vou para despertá-lo do sono...

Oh! Sono terrível! ... o mundo julgava-me adormecido, mas o vosso olhar, meu Deus, que perscruta os corações, enxergava que estava morto à vossa graça... [6]

Ó Jesus, caí tão baixo... num túmulo tão profundo... mas vosso coração amigo pulsa ainda por mim... Chamais-me vosso amigo... e vistes para despertar-me! ...

Quantas graças foram precisas para isso! ... sobretudo que imensa misericórdia de vossa parte... Tantos mortos jaziam a meu lado... nem sequer olhastes para eles! Mas, no meio deles, notaste o meu cadáver... vosso doce olhar iluminou-se... sentistes-vos tocado de compaixão, e vos apressastes em ir operar grande milagres de minha vocação. [7]

Ó Jesus, sede bendito! Um objeto nos é tanto mais caro, quanto mais nos custou! Minha alma vos custou tantos milagres! ... Como a amais! ... e eu vos amo tão pouco! ... Procurastes-me, e eu vos fugia... quisestes apertar-me contra o vosso coração; e eu não largava este miserável mundo... quisestes colocar-me na luz do dia, onde não se tropeça... e eu procurava a noite escura de minhas paixões! ... [8]

Ó Jesus, basta de ingratidões: Eis-me aqui... dizei-me o que de mim esperais. Quero absolutamente agradar-vos hoje! ... Doce Virgem Maria, ajudai-me a procurar as ocasiões de fazer prazer a Jesus... de lhe mostrar a minha ingratidão.

Pe. Júlio Maria De Lombaerde


In: Contemplações Evangélicas - doutrinais e morais sobre a paixão de N. S. Jesus Cristo para uso das almas sacerdotais e religiosas. - 1º Tomo: Os Pródromos do Calvário. Ed. Vozes, Petrópolis,1934. Pág. 118 a 121.

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[1] Et graudeo propter vos, ut credatis, quoniam nom eram ibi; sed eamus as eum. (Jo. 11,15)
[2] Rabbi, nunc quærebant te Judæi lapidare, et iterum vadis illuc? (Ib. 8).
[3] Nonne doudecim sunt horæ diei? Si quis ambulaverit in die, non offendit quia lucem hujus mundi videt. (Ib. 9)
[4] Lazarus amicus noster dormit. (Ib. 11)
[5] Tu es ille vir... (2 Reg. 12,7)
[6] Quia ecce qui elongant se a te, peribunt perdidisti omnes, qui fornicantur abs te (Sl 72,27)
[7] De tenebris vos vocavit in admitabile lumen suum (1 Pt. 2,9)
[8] Cum autem placuit ei, qui segregavit ex utero matris meae et vocavit per gratiam suam. (Gl. 1,15)

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