Das Contemplações Evangélicas do Servo de Deus Pe. Júlio Maria De Lombaerde:
Prelúdios:
Tenhamos diante dos olhos Jesus Cristo, os braços estendidos, convidando os apóstolos, e com eles, todas as almas generosas, ao desapego completo das criaturas.
Meu bom Jesus, eu desejo servir-vos! Mostrai-me o caminho e dai-me força para trilhá-lo sem
Vacilação.
I
O evangelho continua a apresentar-nos a mesma cena... Tendo insistido vivamente sobre a humildade como própria da infância, O Salvador mostra-nos a inocência... a pureza... e as precauções a tomar para conservá-las. Ele Continua (Mt. 18, 8):
8 — Assim, se a lua mão ou o teu pé te escandaliza, corta-o e lança-o fora de ti: melhor te é entrar na vida manco ou aleijado, do que, tendo duas mãos, ou dois pés, ser lançado no fogo eterno.
9 — E se o teu olho te escandaliza, arranca-o e atira-o longe de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho do que, tendo dois, ser lançado no fogo do inferno.
II
Ó Jesus, acabais de falar tão admiravelmente... digamos, tão divinamente, da infância espiritual, e das qualidades que a distinguem, Estas qualidades são a humildade e a Inocência. Em diversas ocasiões exaltastes as almas puras: Bem-aventurados os corações puros, porque verão a Deus... (1) mais que isto... São os corações virgens, que seguirão o cordeiro por toda parte (2).
Nesta ocasião tudo o que dizeis dos privilégios dos pequenos aplica-se tanto à Inocência como à humildade. Dais, porém, aqui certos conselhos que eu quero meditar... estes conselhos parecem rígidos... mas nunca o serão demais, quando se trata da salvação de uma alma!
No falais das beatitudes, mas dos meios a tomar para conservar em todo o seu brilho e seu fulgor a pureza do coração e a virgindade da alma:
Se tua mão, teu pé ou o teu olho te dão ocasião de escândalo, de tentação ou de queda, dizeis... arrancai-os... e lançai-os longe de vós (3).
Ó Jesus, vós tão bom, tão paciente, tão brando, como me pareceis rigoroso aqui... incisivo e quase sem piedade... é preciso que a matéria de que tratais seja importante, essencial! ...
Importante, sim, ela o é: trata-se de uma virtude que faz o homem um anjo... e o vício contrário um demônio. (4)
Falai, meu Jesus, eu escuto-vos, pois sinto que se trata aqui de uma questão de vida ou de morte.
A mão, o pé, o olho são apenas símbolos Designam o que nos é mais precioso mais útil... Com isto, quereis fazer-nos sentir, — e com que força — que, para salvaguardar um tal bem, não se deve recuar ante os maiores sacrifícios.
Mão, pé e olho fazem parte do nosso ser e são nossa própria carne. Ora, existem apegos humanos tão íntimos: fazem parle da nossa vida... Arrancá-los é mutilar a nossa alma! ... Não importa! se são perigosos não hesiteis, tomai o cutelo e feri. É uma questão de vida ou de morte... Para salvar a sua vida natural, o homem sacrifica perfeitamente a sua mão, seu pé, seu olho, e para salvar a sua vida divina, uma alma religiosa recusar-se-ia os sacrifícios necessários! Meu Jesus, eu compreendo, é duro! mas é necessário! (5).
E continuais: "Lançai-os longe de vós! ..." Não basta cortá-los?... isto é, decepar os apegos culpados? — Não, é preciso lançá-los ao longe, para que nunca mais se possa retomá-los! ... (6)
Que lição de sinceridade e de prudência, meu Deus. Frequentemente não se faz mais do que desmanchar laços que se reformarão pouco depois. (7)
Aceita-se urna separação que se recusará tornar irrevogável... Guardar junto a si o perigo quando se pode afastá-lo não é enganar-se a si próprio?
Pobre natureza humana, desconfia das resoluções imperfeitas!
III
Ó Jesus, acabo de penetrar no íntimo de meu coração... ou, antes, vossas palavras abriram nele uma Fresta... por onde eu posso ver o que lá se passa! ... Vivo sem dúvida longe dos excessos monstruosos que fazem enrubescer os anjos... mas não estarei por certos graus atingida por este mal?
As afeições francamente mais separam inteiramente de vós... mas as afeições que perturbam ou amolecem ou simplesmente exageradas afastam da vossa intimidade! ... (8)
Por causa de certos apegos fúteis... eu perco por vezes o gosto da oração e inclino-me para a tibieza... Ó meu Jesus, o que eu fiz?, eu bebi... E bebo uma espécie de veneno que me não dá a morte... mas que extingue em mim o ardor pelo bem... o zelo de minha perfeição... a procura dos favores divinos! ...
Ei-la, então, a razão de meu pouco progresso na virtude! Eu não sou todo vosso! ... Eu não temo bastante as pequenas faltas... e estas pequenas faltas afastam-me de vossa intimidade... de vosso coração... onde eu quereria repousar a minha cabeça! ...
Ó Maria, mostrai-me o vosso desapego completo das criaturas! ... eu quero seguir-vos... e para isso eu quero arrancar, cortar, esmagar toda a afeição que não seja para Jesus... que seja capaz de amolecer-me... e de afastar-me de seu coração. Indicai-me os apegos que são para mim ocasião de fraquezas e de quedas... Juntos cortá-los-emos e lançá-los-emos longe de nós! ...
(Determinar tal apego).
Pe. Júlio Maria De Lombaerde
In: Contemplações Evangélicas - doutrinas e morais sobre a
paixão de n. S. Jesus Cristo para uso das almas sacerdotais e
religiosas. - 1º Tomo: Os pródromos do Calvário.
Ed. Vozes, Petrópolis,1934. Pág. 104 a107.
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Notas:
1) Beati mundo corde; quoniam ipsi Deum videbunt. (Mt. 5, 8).
2) Hi Sequuntur agnum quocumque ierit (Ap. 14, 4).
3) Si autem manus tua vel pes tuus scandalizatt te, abscide eum, et projice abs te (Mt. 18, 8).
4) Castitas angelos facit: qui eam servavit angelus est; qui perdidit diabolus (S. Ambr.: De Virg. I, 1).
5) Discede pabulum mortis, quia jam ab alio amatore præventa sum (Off., 21. Jan).
6) Abscid eum, et projice abs te (Mt. 15, 8).
7) Expoliantes vos veterem honinem cun actbius suis (CI. 3,9).
8) Qui autem in carne sunt, Deo placere non possunt (Rm. 8, 8).
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