
Por ser uma resposta livre do homem a Deus, a fé é um ato pessoal. Porém, não cremos sozinhos e isolados. (cf. nº 166). Neste sentido, devemos transmitir a fé que recebemos aos outros, para que estes possam também crer. Essa é a nossa missão, essa é a missão da Igreja que atende ao apelo de Jesus quando enviou os apóstolos para anunciar o Evangelho a todos os povos (cf. Mt 28, 19-20). É da Igreja, portanto, que recebemos a fé que professamos.
No número 166, o Catecismo nos apresenta algo de muito importante: a contribuição na fé entre aqueles que creem. Ou seja: com a minha fé posso ajudar os outros a crescerem também em sua fé, a professar seu amor por Jesus. Ao mesmo tempo, também eu posso crescer na fé, ajudado pelos irmãos. Isso é Igreja! A fé que professamos individualmente (aquilo que “eu creio”) torna-se a nossa fé (aquilo que “nós cremos”), pois somos um só corpo (1Cor 12, 13).
O magistério da Igreja é o nosso guia, é ele que nos orienta para permanecermos fiéis à fé que recebemos dos apóstolos - aqueles que testemunharam o que aconteceu a Jesus, nosso Senhor. O Catecismo ensina:
“167. ‘Eu creio’: é a fé da Igreja, professada pessoalmente por cada crente, principalmente por ocasião do Batismo. ‘Nós cremos’: é a fé da Igreja, confessada pelos bispos reunidos em Concílio ou, de modo mais geral, pela assembleia litúrgica dos crentes. ‘Eu creio’: é também a Igreja, nossa Mãe, que responde a Deus pela sua fé e nos ensina a dizer: ‘Eu creio’, ‘Nós cremos’.”
Importante observar que, quando os bispos falam em questões dogmáticas, usam o termo: “nós cremos” porque já não se fala de uma fé particular, mas coletiva: é a fé da Igreja.
I. “Olhai, Senhor, pela fé da vossa Igreja”
Primeiramente é a Igreja que crê e, por crer primeiro, alimenta e sustenta a nossa fé. A Igreja tem a missão de perpetuar o mistério pascal de Cristo, de antecipar-nos as alegrias da participação na vida divina que um dia receberemos de Deus. Em cada missa perpetuamos a paixão e ressurreição de Jesus, recordando o mistério da nossa salvação. Quem nos permite isso? A Igreja, em cada missa, em cada sacramento! No Batismo recebemos, através da Igreja, a vida nova em Cristo:
“No Ritual Romano, o ministro do Batismo pergunta ao catecúmeno: ‘Que vens pedir à Igreja de Deus?’ E ele responde: – ‘A fé’. – ‘Para que te serve a fé?’ – ‘Para alcançar a vida eterna’.” – CIC 168
O número 169 traz uma importante consideração a respeito da Igreja. O catecismo é tão claro em suas colocações que torna desnecessárias muitas explicações:
“169. A salvação vem só de Deus. Mas porque é através da Igreja que recebemos a vida da fé, a Igreja é nossa Mãe. ‘Cremos que a Igreja é como a mãe do nosso novo nascimento, mas não cremos na Igreja como se ela fosse a autora da nossa salvação’. É porque é nossa Mãe, é também a educadora da nossa fé.”
A Igreja nos educa na fé: seja na catequese, nos sacramentos, através da liturgia - que por si mesma nos leva a crer ainda mais – na leitura da palavra de Deus, nos documentos, nas declarações, na vida dos santos, dos sacerdotes, dos religiosos, religiosas, dos fiéis leigos... Enfim, toda a ação da Igreja nos conduz a fé. Por isso ela é nossa mãe.
II. A linguagem da fé
Santo Tomás de Aquino, dizia que: “O ato [de fé] do crente não se detém no enunciado, mas na realidade [enunciada]”. Mesmo que a linguagem seja diferenciada, a realidade tem que ser a mesma.
Houve, em uma época uma grande confusão no que diz respeito ao uso de alguns termos, ou expressões. Quando os cristãos no ocidente falavam sobre a Santíssima Trindade, diziam crer em um só Deus, em três Pessoas. Já os cristãos do oriente ficavam um tanto perplexos porque eles traduziam a palavra persona (pessoa) ao pé da letra (que do grego, significa máscara). Para eles (os orientais), portanto, a expressão: “um só Deus em três pessoas” significava a heresia modalista(segundo a qual existe um só Deus com três máscaras). Em contrapartida, os orientais diziam crer em um só Deus, com três hipóstases, o que, na visão dos ocidentais significava que Deus tinha três substâncias. Ou seja, a heresia triteísta.
Isso quase gerou gravíssimas consequências. Por causa de palavras, quase que a Igreja se dividiu. Contudo, tanto os orientais quanto os ocidentais estavam crendo na mesma coisa. Porém, expressavam sua fé com palavras diferentes, fazendo-se necessário chegar a um acordo. É aí, então, que a Igreja se manifesta com suas decisões dogmáticas para resolver estas questões e proporcionar a unidade e a autenticidade da fé que professa. A Igreja ao cuidar da linguagem, quer evitar que esta sirva como um meio de confusão e divisões.
“Tal como uma mãe ensina os seus filhos a falar e, dessa forma, a compreender e a comunicar, a Igreja, nossa Mãe, ensina-nos a linguagem da fé, para nos introduzir na inteligência e na vida da fé.” – CIC 171
III. Uma única fé
Tendo visto que a Igreja nos ensina que existe a linguagem da fé, existe também um fator ainda maior do que este: uma única fé! A fé que recebemos através da Igreja por um único batismo é originada de um só Senhor e, diz-nos o catecismo: é “enraizada na convicção de que todos os homens têm um só Deus e Pai”. – CIC 172
Nossa fé é única porque a Igreja a conservou tal como a recebeu dos apóstolos. No passar dos séculos nossa fé não mudou, permaneceu a mesma, inalterada. E, por mais que houvesse heresias, crises, divisões, protestantismo e tantas outras coisas, a fé católica não se modificou porque a missão da Igreja é dar testemunho da verdade, pois a Igreja é “coluna e sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15).
Concluímos com as palavras de Santo Irineu de Lyon:
“Através do mundo, as línguas diferem: mas o conteúdo da Tradição é um só e o mesmo. Nem as Igrejas estabelecidas na Germânia têm outra fé ou outra tradição, nem as que se estabeleceram entre os Iberos ou entre os Celtas, as do Oriente, do Egito ou da Líbia, nem as que se fundaram no centro do mundo”. “A mensagem da Igreja é verídica e sólida, porque nela aparece um só e o mesmo caminho de salvação, em todo o mundo”.
Esta fé, “que recebemos da Igreja, guardamo-la nós cuidadosamente, porque sem cessar, sob a ação do Espírito de Deus, tal como um depósito de grande valor encerrado num vaso excelente, ela rejuvenesce e faz rejuvenescer o próprio vaso que a contém”.
Luan Carlos Oliveira
Ouro Preto-MG
luanjuvenato@yahoo.com.br
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