18/08/2016

O Homem: saudade e teimosia

Afirma o Catecismo da Igreja Católica (nn. 27-30) que “o desejo de Deus está inscrito o coração do homem”.

Esse desejo manifesta-se concretamente como uma sede de plenitude, uma saudade de vida, de bem, de bondade e beleza, de eternidade, saudade de sentido para a existência.

Olhe bem meu Leitor: vivemos procurando uma realização, uma plenitude em coisas, situações, pessoas. E, no entanto, tudo como que nos grita: “É mais além, é mais adiante!” Efetivamente, nada nem ninguém nos preenche totalmente.

Ó coração humano, que não se contenta com nada menos que o Infinito! Por que somos assim? Porque “Deus não cessa de atrair o homem a Si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar”.

Sim, isto você e eu podemos constatar: a sede louca de verdade que temos.

Não de qualquer verdadezinha, mas da Verdade que dá sentido à vida. Verdade, onde tu estás? Onde podemos encontrar-te para, finalmente, aquietar nosso coração? “O homem só vive plenamente segundo a verdade se reconhecer livremente (...) e se entregar ao seu Criador!”

Eis uma realidade impressionante: sem se entregar efetivamente a Deus, o homem será sempre atormentado pela falta do Sentido último que ele tanto procura. Muitas vezes disfarçará sua frustração, seu absurdo, fazendo de verdades parciais da vida a própria Verdade. Mas, é uma ilusão! No fundo, ele sabe que é uma mentira, sustentada apenas para fugir do absurdo de uma existência sem sentido.

Deus, portanto, nunca será uma realidade opcional para o homem: será sempre seu chão, seu horizonte, mesmo quando este tenta negá-Lo, amaldiçoá-Lo e gritar feito adolescente imaturo, que não precisa Dele!

É importante observar que “os homens têm expressado de múltiplas maneiras sua busca de Deus” no decorrer da história”. Este é o significado de tanta religiões, que acompanham a humanidade desde os seus primórdios. São manifestações da sede de Deus – e neste sentido, são boas. O Senhor mesmo fez o homem assim saudoso e sedento, fê-lo “um ser religioso” “para que procurassem a Divindade e, mesmo se às apalpadelas, se esforçassem por encontrá-La, embora Ele não esteja longe de cada um de nós, pois Nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17,23ss).”

Deus, se pensarmos bem, é a presença mais íntima, a percepção mais primitiva e primária do ser humano. Podemos dizer que tomamos consciência Dele quando, crianças ainda, vamos nos dando conta de que existe o mundo, existe a vida, existimos nós. 

Assustados, maravilhados, admirados, perguntamos: “Isto tudo que existe, de onde vem? Isto tudo que me cerca, por que existe e para que existe?” Eis aí já a pergunta implícita por Deus; eis aí a percepção que irá acompanhar-nos e atormentar-nos por toda a vida, como um espinho ou um favo de mel!

E, no entanto, “esta união íntima e vital com Deus pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada explicitamente pelo homem”. Tais atitudes podem ter origens muito diversas:

(1) a revolta contra o mal no mundo,

(2) a ignorância religiosa – e este é um problema sério: fala-se de Deus e da religião, mas de Deus e de religião não se sabe nada de profundo! Vemos isto em alguns cientistas atuais, ateus militantes, que se metem a opinar sobre o que não entendem: ser um bom cientista, ser competente e profundo na sua área, não lhes garante ser competente e profundo quando falam de um tema que não é sua especialidade. Resultado: pensam e falam tolices, pensam e falam dogmaticamente!

(3) a indiferença religiosa, provocada muitas vezes pela preocupação exasperada com as coisas do mundo e as riquezas,

(4) o mal exemplo dos crentes,

(5) as correntes de pensamento hostis à religião e

(6) finalmente, a própria atitude do homem pecador, quebrado, incoerente e ferido que, por medo, se esconde diante de Deus com mil desculpas fúteis e foge diante do Seu chamado.
No entanto, “se o homem pode esquecer ou rejeitar a Deus, este, de Sua parte, não cessa de chamar todo homem e procurá-lo, para que viva e encontre a felicidade”, isto é, o verdadeiro sentido da existência.

A questão é que tal busca “exige do homem todo o esforço de sua inteligência, a retidão de sua vontade, um coração reto e também o testemunho dos outros, que o ensinam a procurar a Deus”.

Eis aqui algo importante: a procura de Deus é pessoal, mas nunca individual: a fé dos outros, a convivência com outros que creem, sustenta e confirma a minha fé! Mais ainda: não se busca a Deus seguindo somente a razão. É necessário que entrem aí o afeto, a sensibilidade, o coração, pois Deus se nos mostra batendo docemente à nossa porta e invadindo respeitosamente todos os espaços, capacidades e experiências de nossa existência.


Dom Henrique Soares da Costa

Fonte: https://www.facebook.com/notes/henrique-soares-da-costa/o-homem-saudade-e-teimosia/1024432104337830

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