29/11/2012

A Bíblia (I) – Inspiração e Verdade (CIC 101 -108)


Nesta parte do Catecismo, iniciaremos nossa reflexão e estudo sobre a Sagrada Escritura. Já vimos nos artigos anteriores que a Sagrada Escritura é uma fonte segura da Revelação de Deus, que é Palavra de Deus escrita sob a ação do Espírito Santo (cf. CIC 81). O Catecismo, para iniciar a temática bíblica nos coloca diante do seu centro: Jesus Cristo.
I. Cristo, Palavra única da Sagrada Escritura.

Esta é a primeira consideração a se fazer sobre a Bíblia: Cristo é o seu centro! Em torno d’Ele gira toda a Escritura, porque Cristo é a própria Palavra de Deus, o verbo que se fez carne (cf Jo 1). Deus para se revelar aos homens e se fazer entendido, rebaixou-se à nossa condição humana para assim nos comunicar o seu amor. (cf. CIC 101). Existe um enorme abismo entre o homem e Deus, entre aquilo que somos e praticamos e aquilo que Deus é. Mas Deus, que é cheio de amor, para ficar mais perto de nós e transpor este abismo, deu-nos Jesus.

Para enfatizar que Cristo é a palavra única das Escrituras, o Catecismo no parágrafo 102 traz uma belíssima citação de Santo Agostinho, doutor da Igreja:

Lembrai-vos de que é uma mesma a Palavra de Deus que se ouve em todas as Escrituras é um mesmo o Verbo que ressoa na boca de todos os escritores sagrados, ele que, sendo no início Deus junto de Deus, não tem necessidade de sílabas, pois não está submetido ao tempo”.

 Como já vimos no artigo I deste capítulo (CIC 65 a 67), Jesus é o centro, a plenitude de toda a revelação. Portanto, A Bíblia, como meio de transmissão da Revelação Divina, fala-nos e expressa o próprio Jesus.

No parágrafo 103, o Catecismo, para enfatizar a importância da Bíblia, afirma:

103. Por esta razão, a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras tal como venera o Corpo do Senhor. Nunca cessa de distribuir aos fiéis o Pão da vida, tornado à mesa quer da Palavra de Deus, quer do Corpo de Cristo”.

Cabe aqui um esclarecimento quanto ao parágrafo 103 do Catecismo, que pode criar certa confusão principalmente em mentalidade liberal: A Igreja sempre venerou as Escrituras como venera o Corpo do Senhor. Mas, Jesus não está nas escrituras da mesma forma que está na Eucaristia. Na Eucaristia, Jesus está por inteiro!  Nós não comungamos a Bíblia, ou nos ajoelhamos diante dela. Mas diante da Eucaristia sim. Jesus está na Bíblia enquanto Palavra de Deus revelada e na Eucaristia está por inteiro, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade! O Catecismo nos diz que a Igreja venera a Palavra e a Eucaristia, mas não diz que têm igual valor e dignidade, o que sabemos claramente que não têm.

II. Inspiração e Verdade da Sagrada Escritura.

Temos algumas questões fundamentais acerca da Sagrada Escritura: 1º Deus é o Autor da Sagrada Escritura, 2º Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados, e 3º Os livros sagrados ensinam a verdade. Vamos aprofundar estas questões agora:

1º Deus é o autor da Sagrada Escritura (CIC 105): Esta é uma questão de fé mais que fundamental. A importância da Bíblia está principalmente no fato de ser a Palavra de Deus revelada. Como católicos não podemos duvidar disso. Este é o fato que distingue a Bíblia de qualquer outro livro. A Constituição Dogmática Dei Verbum ensina:

“Com efeito, a santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como sagrados e canônicos os livros completos do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, porque, escritos por inspiração do Espírito Santo, têm Deus por autor, e como tais foram confiados à própria Igreja” – (CIC 105 / DV 11).

Importante notar que a Bíblia inteira é inspirada, que é obra de Deus. O Catecismo pretende aqui recordar que não devemos selecionar na Bíblia aquilo que nos interessa ou que simplesmente é mais fácil de se explicar e dizer então que é Palavra de Deus e excluir outras partes dizendo que não são inspiradas por Deus, como fizeram os protestantes, e muitos teólogos modernos.

2º Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados (CIC 106): Os autores humanos dos livros sagrados são chamados de hagiógrafos. Diferentemente dos muçulmanos que pensam que o alcorão foi ditado pelo anjo Gabriel a Maomé, A Palavra de Deus que se encontra na Bíblia não foi ditada, pois existiram verdadeiros autores humanos. Deus usou das capacidades mentais destes autores, agindo neles. Deus inspirou o coração dos autores a fim de escreverem só o que Ele quis.

Para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens, na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria” – CIC 106 / DV 11

3º Os Livros Sagrados ensinam a Verdade (CIC 107): Não existem erros na Bíblia. Quando a Igreja nos ensina isto, está enfatizando que não há erros em matéria de fé, não há erro que comprometa a nossa salvação. Contudo, Deus ao utilizar de autores humanos utilizou de suas capacidades (vocabulário, gramática, conhecimento), e por isso existem erros de ordem científica, erros de botânica, de datação etc. Mas não existem erros no que se refere a nossa fé.

Devermos perguntar-nos se o que está escrito altera a nossa salvação. Por exemplo: Quando na bíblia se diz que o grão de mostarda é a menor semente, vemos um erro de botânica. Mas, que diferença isso faz para a nossa salvação? O que nos importa é a mensagem do Senhor. Por isso afirmamos com toda certeza e catolicidade que a Bíblia não erra em matéria de fé. A inerrância da Bíblia está no fato de que Deus é verdadeira fonte.

No Parágrafo 108 do Catecismo temos uma afirmação mais que esclarecedora: Nossa fé não está centrada na Bíblia, mas na Pessoa de Jesus Cristo. Não somos a religião de um livro, mas de uma pessoa!

108. No entanto, a fé cristã não é uma «religião do Livro». O Cristianismo é a religião da «Palavra» de Deus, «não duma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo» .  Para que não sejam letra morta, é preciso que Cristo, Palavra eterna do Deus vivo, pelo Espírito Santo, nos abra o espírito à inteligência das Escrituras. 

Todas estas afirmações sobre a Bíblia pretendem opor-se às afirmações modernistas (Surgidas principalmente com Immanuel Kant) de que a Bíblia não é Palavra de Deus, que é apenas uma obra humana, ou ainda que a Bíblia é uma ilusão dos cristãos primitivos e etc. Pra nós católicos, que temos fé, estas afirmações não representam novidade, mas também existem em nosso meios pessoas cheias de dúvidas que precisam ser esclarecidas.


Luan Carlos Oliveira
Ouro Preto-MG

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