15/02/2016

Elementos para entrar no clima da Quaresma

Para bem celebrar a santa Quaresma é importante compreender algumas das atitudes fundamentais deste tempo litúrgico, para entrarmos realmente em sintonia com o sentimento da Igreja. Eis algumas linhas importantes para nossa vida espiritual:

1. No tempo da Quaresma somos chamados a nos transportar espiritualmente para o deserto do Sinal, onde o Povo de Israel, Povo de Deus do Antigo Testamento fez aliança com o seu Deus e realizou sua travessia rumo à Terra Prometida, com momentos de graça e de queda, de esperança e de profundo desânimo. Ora, nós somos o Povo de Deus do Novo Testamento, o Novo Povo de Deus. Também atravessamos o deserto deste mundo como um povo peregrino, caminhando “entre as consolações de Deus e as perseguições do mundo”, como dizia Santo Agostinho. Somos o povo da Aliança nova e eterna, selada no sangue do Cordeiro sem mancha, um povo que, como o antigo, deve viver da Palavra de Deus, alimentado pelo novo maná, que é a Eucaristia, povo que caminha rumo à Terra Prometida, isto é, a Pátria celeste. Então é muito importante nos colocar espiritualmente numa situação de caminho, de confiança em Deus, aprendendo dos textos do antigo Testamento que nos contam a história espiritual de Israel. Como nos adverte São Paulo, “esses fatos aconteceram para nos servir de exemplo... e foram escritos para nossa instrução, nós que fomos atingidos pelo fim dos tempos” (1Cor 10,6.11). Por tudo isto, vamos escutar muito nas leituras da liturgia textos que nos falam do caminho e das tentações e provas de Israel. São o caminho e as provas da Igreja...

2. Outro modelo nosso para a Quaresma é a experiência de Moisés, Elias e Jesus. Os três passaram um período no deserto, diante de Deus. Moisés, no Sinai, jejuou e esteve em oração quarenta dias, antes de receber o Decálogo. Elias caminhou quarenta dias até o mesmo monte (agora chamado de Horeb) para encontrar o Deus vivo. Finalmente Jesus nosso Salvador e Senhor, antes de iniciar seu ministério público, embrenhou-se no deserto para combater Satanás. Todos estes exemplos nos convidam ao combate espiritual, certos de que o encontro com o Deus vivo exige de nós um coração purificado, um coração capaz de reconhecê-lo e acolhê-lo. Ora, isto é impossível sem o silêncio, a solidão, a escuta da Palavra, a oração, o combate aos vícios e a caridade fraterna.

3. Neste sentido, um outro aspecto muito presente no tempo quaresmal é o apelo dos profetas à conversão. Isaías, Jeremias, Amós, Ezequiel, Joel – estes sobretudo, são ouvidos na liturgia da Igreja exortando-nos a uma mudança radical de vida para de verdade sermos o Povo da Aliança, o Povo de Deus. Neste sentido, a Quaresma convida-nos, por um lado, a tomar consciência de que somos um Povo, Povo de Deus, Povo dos batizados, a santa Igreja, dispersa pelo mundo inteiro no meio de tantos outros povos. Por outro lado, o apelo dos profetas leva-nos a tomar consciência de necessidade de um trabalho pessoal de conversão: eu tenho que olhar meu coração e, à luz da Palavra de Deus e dos apelos de sua Igreja, devo buscar a correção, a mudança de vida e a sincera conversão.

4. Mas todos estes aspectos do tempo quaresmal devem girar em torno dum eixo comum, principal: estamos a caminho da celebração da Santa Páscoa (que é penhor e antecipação da Páscoa eterna do Céu). Ora, celebrar a Páscoa quer dizer unir-se a Jesus no mistério de sua Páscoa de paixão, morte e ressurreição. Esta união tem necessariamente que acontecer em dois níveis: primeiramente no nível dos sacramentos. Celebrando a Eucaristia, memorial de Páscoa do Senhor, bem como os demais sacramentos – sobretudo a Penitência -, nós nos unimos real e misticamente ao Senhor no seu mistério pascal, de modo a sermos transformados pelo seu Santo Espírito, tornando-nos uma só coisa com o Salvador: ele em nós e nós nele. Daqui decorre o segundo nível: nossa união com Cristo experimentada nos sacramentos deve desembocar numa vida segundo Jesus, completando na nossa carne o que faltou da paixão do Senhor, crucificando nosso homem velho para deixar que em nossos atos, palavras e modo de viver transpareça o Cristo Jesus, homem novo e modelo de uma humanidade nova, chamada à glória do céu.

Estes são alguns dos elementos básicos para entrarmos realmente no clima quaresmal.


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